Cândido Portinari - (1942) Chorinho

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Rio 65 Trio - (1965) Rio 65 Trio


Dom Salvador é mais um dos grandes instrumentistas que o Brasil "perdeu" para o mundo. Em meados dos anos 60, no embalo da bossa nova, o pianista já era conhecido e respeitado no circuito Jazz do Rio de Janeiro (vide Beco das Garrafas) ao tocar com o Copa Trio, junto com o baterista Dom Um Romão e o contrabaixista Miguel Gusmão. Acompanhou o ingresso de futuros grandes nomes da MPB, como Edu Lobo, Elis Regina e o Quarteto em Cy (curiosamente, alguns anos depois o Copa Trio virou o Copa 4, com a adesão de Jorge Ben). 


Foi na metade da década de 60 que Dom Salvador montou o Rio 65 Trio, junto com o contrabaixista Sérgio Barroso e o fantástico baterista Edison Machado. Esse trabalho refletia toda a influência do Jazz norte americano (especialmente o da costa oeste) na bossa nova, o que futuramente seria enquadrado como "samba-jazz". No entanto, essa mistura produziu uma obra bastante original e impactante, tanto que a partir daí trabalho não faltou para Dom Salvador. Pena que foi na Europa e (posteriormente e definitivamente) nos EUA que o pianista consolidou sua carreira e seu público. 

Gostaria de falar um pouco sobre o monstro sagrado das baquetas brasileiras, Edison Machado. Esse carioca de Engenho Novo é um ícone do instrumento, junto com Milton Banana e Dom Um Romão, no que se refere ao samba moderno - ou bossa nova, como preferir - ainda que, junto desse último, eram os mais jazzistas dentre os bateristas da Bossa Nova. Sua técnica de condução foi uma inovação para a época, pois ele reproduzia a levada do samba apenas nos pratos, deixando uma gama de possibilidades e invenções para o bumbo e o aro da caixa. Nesse disco, é possível ver sua destreza em seu ponto mais alto. "Isso é (mais do que) bossa nova, isso é (ainda assim) muito natural". Assim como vários brasileiros, teve oportunidade nos EUA no início dos anos 60 tocando junto ao Bossa Três, com Luís Carlos Vinhas no piano e Tião Neto no contrabaixo. Em 1964, gravou com o trio o afamado LP (e posterior show) "Opinião", de Nara Leão. Em 76, mudou-se para os EUA e por lá ficou 14 anos. Edison nos deixou em 1990, mas tenho absoluta certeza que sua obra ainda irá influenciar diversas gerações futuras.  

O disco que lhes apresento trás versões jazzísticas e instrumentais de canções da bossa nova, como "Manhã de Carnaval" de Bonfá e Antônio Maria, "Tem Dó" de Baden e Vinícius, "Minha Namorada" de Lyra e Vinícius e o primeiro grande clássico da bossa nova "Desafinado", de Jobim e Mendonça. Há também três excelentes temas de composição de Dom Salvador, dentre eles o que mais se destaca é "Meu Fraco é Café Forte", um jazz extremamente elegante e intenso. Além dessas, o trio "abrasileirou" duas canções norte americanas: "Sonnymoon For Two" de Sonny Rollins e "Mau Mau" de Art Farmer. 

Para quem aprecia a boa música instrumental brasileira, esse disco é referência obrigatória. 

(OBS.: Fico grato pela recomendação de Rodrigo Wadouski para conhecer esse som - sempre apresentando algo de qualidade.)

Faixas:
01 - Meu Fraco é Café Forte
02 - Preciso Aprender a Ser Só
03 - Farjuto
04 - Desafinado
05 - Sonny Moon For Two (Blues em Samba)
06 - Espera De Você
07 - Mau, Mau
08 - Tem Dó
09 - Azul Contente
10 - Manhã de Carnaval 
11 - Minha Namorada 

Instrumentistas:
Dom Salvador (Piano)
Sérgio Barroso (Contrabaixo)
Edison Machado (Bateria)